Poesias 13.31 – A Casa na Montanha parte 2

11 de agosto de 2015 by in category Textos 13.31 tagged as with 0 and 0

escrito em 2005

PARTE I – PAISAGEM

por: Ehekatl Matlaktli

 

I

 

Pela primeira vez senti-me como se tivesse escrito a minha primeira poesia – deja vu de poeta.

Pela primeira vez entendo que de fato não há o que entender.

Paro por um segundo com o olhar longe no inseto, que é feito da folha que o sustenta, e que está tão perto dos meus olhos, que apenas deixo de pensar e sinto-me um pouco mais são.

 

Nascemos com a doença dos homens onde a prevenção é a existência e o tratamento, no meu caso é a vida.

Pena tenho eu dos que não lêem a bula da vida e tomam erroneamente a cápsula da morte.

 

II

 

É precioso estar de frente para a montanha que guarda a terra da sua própria cidade.

Poesia manifestada junto ao piar de um pássaro noturno que, para mim, é desconhecido.

Esqueço, na eternidade de um segundo, que para Natureza, que apenas existe, não importa se estou vendo ou ouvindo.

Percebo que o útero que gerou a mim é Natureza mãe, e por isso, existência.

Não me importo mais em existir. Existir adoecido é questionar.

Se a Natureza fosse uma multidão de perguntas, nós, os seres humanos, -Por sinal os mais adoecidos- seriam o ponto de interrogação. As matas, riachos, cachoeiras, pedras das montanhas imensamente altas e tudo o que é um, cuja constituição é a mesma, da flor à densa estrela, estes sim são existência que poderíamos talvez transformar em respostas.

Daqui de onde vejo, as estrelas parecem brilhar. Não brilho perante elas e se eu chegasse, ao menos, vizinho de alguma delas, derreteriam meus pensamentos em apenas luz e isto para mim seria o que, para a estrela poetiza, nunca foi, pois ela simplesmente é, e eu, pergunto.

 

III

 

Para que mentir paixão que não tem fim se paixão é solúvel em tempo e tempo de fato não existe.

Amar as flores que vejo é relativo aos meus olhos que deviam, além de ver, escutar as batidas da minha vida. Deles, dos olhos, é que quebro a luz que leva à minha alma a beleza.

A correnteza do rio só leva a água e simplesmente leva e assim, a mim, o tempo entrega.

 

IV

 

De poesia vive o poeta.

Atravessa a ponte que divide o amor e a palavra.

Sinto-me imóvel, sentimento interno e intenso que

ronda meu ser.

Saudade momentânea de pulsar instantâneo. Vejo a amada no inverso de meus olhos, profunda, clara, sutil…

Poesia quase com dor. Dormência da memória.

Poeta que desmonta os desejos como

Desmonta peças com ferrugem.

Artista que da sua arte faz a amada e ausenta-se do corpo.

 

V

 

Penso que eu nunca deveria ter escolhido pensar.

Penso, farto, que as cores que meus olhos vêem nas flores são as mesmas que eles não vêem nas sombras.

 

O arco-íris cinza ainda reside sob as nuvens deste céu nublado que enfatiza somente a indecisão.

Às escuras, sob um manto de retalhos, escondo meu sorriso que, de tão para dentro, cavou-me no rosto um desgosto inalterável.

 

Apenas na singela maneira que a mim expressa a Natureza é que me acalmo e junto a dezenas de eucaliptos empoeirados, balanço com o pouco vento que tu trazes a mim, na tua alegria que é uma casca fina perante o fundo do que é visto em teus olhos.

 

 

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