13.31 Textos – Percepção Capítulo 7

8 de setembro de 2015 by in category Textos 13.31 with 0 and 0

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VII

Um ponto em comum entre grandes nomes da comunicação é que todos evoluíram desta ideia de que o ser humano é único e sua percepção de mundo difere do mundo em si, como se seu mundo interno não espelhasse exatamente a realidade externa e fosse como uma impressão digital. No modelo ericksoniano desenvolvido por Jeffrey Zeig é possível categorizar alguns aspectos que influenciam ou estão presentes na personalidade das pessoas. Aspectos estes que dependem mais das restrições sociais e individuais que das neurológicas. Estas categorias são dispostas para ter uma base de referência onde se possa trabalhar, quando a questão é comportamento.

Vale ressaltar que são categorias apenas para esclarecimento no momento da comunicação e não a longo prazo, pois são mutáveis e passíveis de serem aprendidas pela pessoa num metanível.

No modelo de Erickson existem dois tipos de categorias, intrapsíquicas, que são traços individuais e psicosociais, que dependem do ambiente externo.

Categorias intrapsíquicas: interno ou externo, sistema representacional sobressalente (visual, auditivo ou cinestésico), Focalizado ou difuso, ampliador (positivo ou negativo) ou redutor, linear ou mosaico.

Categorias psicossociais: rural ou urbano, função parental familiar (irmão mais novo, do meio, mais velho ou filho único), extrapunitivo ou intrapunitivo, audacioso ou autoprotetor,  irradiante ou absorvente, em estresse ou em homeostase, dominante ou submisso.

A pessoa interna é aquela que processa os dados internamente, presta mais atenção ao que se passa dentro dela do que ao ambiente externo. Se preocupa mais com a própria opinião do que com a opinião externa pode ser uma característica deste tipo de indivíduo.

Já a pessoa externa é voltada para o que acontece fora de si. Presta mais atenção às coisas ao seu redor e menos para seus sentimentos internos.

Os sistema representacional sobressalente, como explicado antes, pode ser visual, cinestésico ou auditivo (estas três categorias não esgotam todos os sentidos, mas são as mais utilizadas pelo sistema humano).

O focalizado é aquele que tem um foco só de atenção e processamento, prestando atenção a somente um elemento por vez. É aquele tipo de pessoa que quando está fazendo algo ignora se alguém lhe fizer uma pergunta. Algumas pesquisas apontam uma predominância masculina focalizada.

Já o difuso tem uma gama maior de atenção, conseguindo focar em vários elementos ao mesmo tempo. São aquelas pessoas que conseguem jogar palavras cruzadas, falando ao telefone e vendo televisão ao mesmo tempo, distribuíndo sua atenção.

O ampliador seria aquele que amplia as informações que capta do mundo externo ou interno, quando as expõe para si mesmo ou aos outros. Pode ser ou positivo ou negativo. O ampliador positivo é aquela pessoa que quando vai contar alguma coisa que aconteceu, exagera, tonificando o discurso, tentendo o lado positivo, ou seja exagera a alegria, a felicidade e intensidade positivamente. São pessoas geralmente cativantes e líderes pois influenciam de uma forma boa e congruente as outras pessoas. O ampliador negativo também exagera suas expressões verbais e corporais, e exagera a forma como percebe as coisas do mundo a sua volta, negativamente. É aquela pessoa “pesada” que reclama de tudo, que aumenta as desgraças quando conta, “contaminando” as pessoas ao seu redor.

O redutor por sua vez reduz para si mesmo e aos outros as mensagens captadas quando as expõe. É aquela pessoa que conta que recebeu uma promoção de emprego com indiferença. Não importa o quão boa é a notícia ou a percepção que ele teve de algum elemento no mundo, irá diminuir a informação e suas mensagens consequentemente serão sem “empolgação”.

A pessoa linear é aquela que organiza a informação de forma retilínea e também a expõe desta mesma forma. Tanto numa conversa ou quando escreve um livro, coloca os assuntos como que em tópicos fechados, termina a ideia antes de começar a próxima. Se dá muito bem com mensagens sequenciais e são mais “didáticos” quando ensinam.

A pessoa mosaica é o oposto da linear, organiza a informação de forma “fractal”, deixando lacunas abertas e pulando de assunto a assunto. Tanto na forma de se expressar quanto na sua organização interna as coisas parecem estar em camadas interligadas, algumas com um fim determinado e outras se perdendo no caminho. Quando a pessoa mosaica é bem organizada e tem uma boa memória curta, a exposição de seus assuntos assemelham-se a um filme onde vão acontecendo temas com objetivo comum, amarrando as ideias para a conclusão final.

Essas categorias individuais atuam como filtros moldando a percepção das experiências e ajundando, junto as restrições neurológicas e individuais, a formatar os padrões do mapa de mundo específico.

O indivíduo que vive ou viveu grande parte da sua vida no campo não possui as mesmas referências daquele que vive ou viveu muito tempo na cidade. A pessoa rural é mais calma, mais paciente, tem habilidades motoras específicas deste tipo de vivência. Se comunica com palavras também provenientes destes ambientes e seus valores e objeto de observação e uso são extremamente interligados com a natureza ao seu redor, a simplicidade e um senso mais primitivo de sobrevivência.

Já a pessoa urbana é mais agitada, rápida, com referências mais fechadas. Utiliza de ferramentas tecnológicas extremamente diversas das do campo  e tem muito mais acesso à comunicação com outras pessoas, além de acesso ao conhecimento comum global. Há muitas diferenças entre os dois tipos de pessoas e com cada uma delas a abordagem na comunicação e terapia deve ser congruente com estas referências sociais.

As funções parentais também são de extrema importância na identificação de padrões do comportamento humano. O filho mais velho acaba por liderar, perde a atenção suprema dos pais quando vem o novo irmão, e se vê obrigado a ter mais responsabilidade se sentindo mais próximo do mundo adulto. Já o filho do meio é o intermediador, também sofre fatores de responsabilidade na vinda de mais um irmão. O filho mais novo acaba por ser menos maduro, podendo ficar preso às referências de criança, podendo ter menos autoridade e responsabilidade para as situações da vida adolescente e adulta. O filho único pode ter tanto referências asociadas ao filho mais velho quanto ao filho mais novo, depende da observação dos pais ao invés da observação dos outros irmãos e esse fator gera influências incrivelmente diversas na sua personalidade e comportamento.

São muitas as referências que estas “imposições” psicosociais parentais geram na vida do indivíduo, tendo que haver um ajustamento na comunicação por parte do comunicador ou terapeuta.

A pessoa extrapunitiva é aquela que acredita que a “culpa” é sempre dos outros. Cria uma referência onde suas ações parecem ser isentas de erros e automaticamente transfere estes possíveis erros para o mundo ao seu redor. São menos suceptíveis a acusações e defendem mais o seu ponto de vista afim de provar que este é o correto. Chega a culpar até objetos e coisas por ações que foram suas.

A pessoa intrapunitiva, pelo contrário, crê que é sua a “culpa” pelas coisas que ocorrem de ruim, as vezes chegando até a autopunição por coisas que não foram de forma alguma influênciadas por seu comportamento. Acabam por ter uma relação de peso e se desculpam muito mais do que as extrapunitivas. Ficam mais magoados quando acusados poi aceitam a acusação imposta como verdade. Se alguém é intrapunitivo ao extremo pode sofrer muito e chegar a depressão.

O audacioso é aquele que arrisca, que tenta independente de poder sofrer de alguma forma as consequências. É uma pessoa que dá menos importância ao perigo conseguindo agir em mais situações. É audacioso tanto em relação a si mesmo quanto com os outros.

O autoprotetor é mais cauteloso, não arrisca tanto e também acaba por proteger mais seus subordinados, parentes e amigos. Não é tão flexível quanto o audacioso, mas pode também ser mais acertivo e constante positivamente se tiver “poder pessoal”.

A pessoa irradiante é aquela que tem uma espécie de “brilho” na sua comunicação. Fala bastante, se comunica analógicamente com mais flexibilidade e agilidade. São pessoas que acabam por passar bastante informações para seus interlocutores, podendo ser professores, palestrantes e etc. Não só na área da comunicação verbal ela pode ser irradiante, mas também como nas artes plásticas, múscica, literatura, tatro e etc. Pode ter uma forte presença, sendo uma das características de líderes.

Já a pessoa absorvente é aquela que escuta, que absorve que recebe a comunicação mais do que age nela. Pode ser extremamente receptivo a ponto de quase não falar. Acaba por observar e analisar melhor as coisas, pois se dá mais tempo para receber as informações externas.

O indivíduo em estresse, é mais ativo, talvez mais infantil, faz as coisas sem pensar e mais veloz. Enquanto que o indivíduo em homeostase é quieto, pensa mais, busca o equilíbrio, fala devagar.

O dominante é aquele que exerce mais influência, que lidera a comunicação social. Dois dominantes podem gerar conflito de argumentos, pois buscam sobressair, ou mesmo que um acabe por ceder, será apenas um ato exteriorizado, no fundo pensando que foi mais inteligente em deixar que o outro “ganhasse” temporariamente.

O submisso é o oposto, aquele que prefere ser dominado, mesmo que incoscientemente. Possui poucos recursos de “força de influência” e acaba por não conseguindo ter uma comunicação de liderança. O submisso trabalha melhor sob ordens e comandos e confiam mais nos outros. Podem ser dominados pelo medo e fidam numa maior aceitação pelas injustiças que possam lhe ocorrer.

Tendo em vista estas categorias do estudo de Jefrey Zeig sobre o trabalho de Erickson, percebe-se que cada indivíduo, na sua complexidade perante as referências internas e sociais, pende mais para um lado em variáveis, como se cada categoria fosse uma balança e a indivualidade pode ser verificada ou medida pelas probabilidades da equalização destas balanças. Também pode-se perceber que não é positivo estar no extremo de alguma categoria, concluindo que um comportamento “de nível superior”, uma personalidade “de grande poder pessoal”, estaria no equilíbrio das mesmas. Uma pessoa que use estas categorias para melhor compreenssão de si mesmo a meta-nível e age de forma a equalizar conscientemente as suas relações para que um padrão incosciente seja estabelecido estará certamente mais apto a tomar decisões que gerarão resultados positivos na sua vida, assim como sua relação social será impecável. Um grupo que tenha esse “poder” de equilibrio e possa também equilibrar socialmente estas relações será certamente mais ativo, inteligente e criativo nas suas ações.

Virginia Satir, incrível terapeuta familiar, em seu trabalho de terapia, também traçou elementos de personalidade que podem ser explícito em padrões para melhor compreensão de seus clientes. Estes padrões de comportamento estão mais a nível sintomático do que as categorias ericksonianas, não estabelecendo uma balança de referência. São personalidades que ela, como brilhante observadora do comportamento humano, descreveu para melhor entender o porcesso que teria de usar para obter a mudança das pessoas.

As padrões que Satir descreveu são:

acusador, apaziguador, distrator, computador e nivelador.

O acusador é aquele que procura alguém para culpar. São críticos e acham que os outros são sempre menos do que eles. Tem uma comunicação verbal forte e decidida, aponta o dedo frequentemente. São pessoas mais solitárias por causa de sua personalidade.

O conciliador também coloca a culpa nos outros, como reflexo do acusador, mas são mais diplomáticos, querem passar sempre uma boa imagem. Ele não é igual ao acusador na forma analógica, não usa de fortes expressões e por isso não passa a mensagem de acusação, podendo ter mais amigos e ser mais social. De qualquer forma o conciliador pode se fazer de vítima e de boa pessoa que ajuda a todos, numa espécie de jogo patológico que pode lhe trazer danos sociais.

O computador, como o nome já diz, computa as coisas, são como uma máquina que calcula as situações. Sua personalidade externa pode não ser congruente com seus sentimentos internos, são mais secos e “frios”. Bloqueiam seus pensamentos para os outros, sendo mais discretos e não falando muito. Estão sempre controlando e precisam de dados para fazer suas analises internas e tirar suas conclusões. Pode ser muito infeliz a relação de alguém com um computador, pois não demonstarm sentimentos e sua conversação é apenas para haver comunicação e não para expressar-se e integrar-se aos outros.

O distrator é como uma mistura dos três anteriores. Culpam com gestos fortes, atua como concilidor e também pode ser frio e calculista. Eles podem falar coisas sem sentido e tornar a comunicação bem confusa.

O nivelador é a pessoa coerente, tendo este nome por não ter características de nenhum dos outros padrões. Ele é mais equilibrado internamente e mais autêntico em suas relações. O nivelador fala aquilo que realmente pensa e isso pode lhe causar empatia por algumas pessoas.

Observando a linguagem analógica e verbal das pessoas, pode-se chegar a que padrão Satir elas pertencem, ou qual padrão está mais presente naquele momento da comunicação.

É importante pensar nestes padrões da mesma forma que nas categorias ericksonianas, como ferramenta para autodesenvolvimento, pois num metanível se pode conscientemente tentar ser mais flexível com sigo mesmo e com os outros. Talvez uma forma de se chegar a melhora da personalidade e consequentemente produzir comportamentos positivos, tanto individuais quanto grupais, seja a de ser o mais nivelador possível, pois a congruência da comunicação traz uma melhor compreensão da mensagem e mais intimidade e autencididade na interelação.

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