13.31 TEXTOS – Percepção – Cap. 2

19 de agosto de 2015 by in category Textos 13.31 tagged as with 0 and 0

heick-habits-of-mind

Por Vinicius (tr3zetrintaeum)

II

É possível que o ser humano possua todo conhecimento adquirido em vida, e mais ainda, todas as mensagens e informações recebidas pelos canais receptores humanos (sentidos) podem estar “guardadas” na mente, numa parte (divisão apenas para entendimento) denomidada pela psicologia de incosciente.

O inconsciente é responsável por variadas funções que comandam o corpo e a mente, selecionando e disponibilizando para o consciente aquilo que determina ser útil para a sobrevivência, não necessariamente gerando comportamentos “positivos”. Em suma, o  cérebro e sistema nervoso filtra o que foi recebido através dos sentidos pelo mundo externo, disponibilizando muito material para o incosciente, que por sua vez, seleciona aquilo que é determinado, ou programado, útil para levar ao nível consciente, e somente neste ponto é que de alguma forma é possível julgar a percepção das coisas, sendo que o consciente é a parte que menos estaria envolvida no processo de existir no mundo como ser humano.

O homem não é perfeito, assim como tudo no universo não parece perfeito, se o fosse as coisas parariam numa harmonia monótona inimaginável. A música não teria uma quebra na sétima nota para a oitava. Os planetas não fariam órbitas em elipses irregulares. Enfim, a nominalização “perfeição” parece não se enquadrar com alguma experiência da percepção humana, talvez o adjetivo nominalizado “complexo” estaria mais próximo do entendimento humano.

O homem não sendo um ser perfeito, seu sistema, as peças da sua máquina complexa não funcionam em sua total capacidade. Talvez funcionem na mínima capacidade, ou apenas dêem a ilusão de que funcionam, pois ele não possui autonomia sobre essas peças para saber como é que se estimulam afim de desenvolver e aperfeiçoar as suas funcionalidades. Este desenvolvimento pode ser extremamente viável pela lógica do treino, no caso, treino mental perceptivo.

Como a máquina humana não funciona na sua totalidade durante muito tempo, talvez desde o início da descoberta do homem como indivíduo, seu sistema físico de armazenamento, processamento, distribuição e troca de informações que é o cérebro e sistema nervoso, acaba por assimilar muito menos informações perceptuais do que talvez poderia, filtrando ainda mais toda a amplitude do conhecimento através dos sentidos.

Como pode-se observar em “A Estrutura da Magia I” (Bandler e Grinder), alguns estudiosos da psicologia e comunicação catalogaram as restrições que bloqueiam estes filtros fazendo com que sejam selecionadas todas as informações provenientes do mundo exterior. As 3 restrições que encontraram para explicar o modo como as pessoas percebem as coisas são: Restrições Neurológicas, Sociais e Individuais; e foram utilizadas e explicadas aqui apenas para compreensão da causa da diferencia entre as pessoas e suas diversas percepções do mundo.

Tem-se por restrições neurológicas aquelas limitações que a máquina homem impõe às suas próprias percepções. Existe milhares de cores, formas, sensações, sons e texturas no mundo que não estão ao alcance dos sentidos. Assim como o olho humano não pode ver um vírus sem a ajuda de aparelhos apropriados, seu sistema auditivo não capta sons com frequência acima de 20.000hz e abaixo de 20hz. As pessoas não sentem as milhares de bactérias que envolvem o corpo a todo momento. Os sentidos são limitados fisicamente, ou melhor, o sistema de decodificação destes sentidos é que parece impor estes limites.

As restrições sociais são os filtros impostos pelo coletivo social, geralmente em formas de generalizações que obstruem a experiência autêntica. São restrições psicológicas e comportamentais que desde o nascimento moldam a percepção, tornando real experiências comuns infundadas. Estas restrições podem ser qualquer informação adquirida em vida sem consentimento, do açúcar na mamadeira quando bebês às generalizações como a de que mulheres super magras são as mais bonitas. Um porém sobre estas restrições sociais é que diversas culturas ou práticas antigas já diziam que para alcançar uma proximidade consigo mesmo deve-se diminuir as influências sociais impostas, seria o “perder a vida pessoal” do índio Don Juan de Matus nos livros do Castañeda.

Já as restrições individuais são aquelas que o indivíduo impõe a si próprio, a partir de experiências e percepçções suas, ou como evolução de restrições sociais. Podem vir em forma de generalizações, crenças ou convicções, e são as restrições que parecem mais enraizadas no sentido de impedir o processo de mudança. Psicologicamente as restrições parecem ter um tipo de escalonamento, sendo necessária a ruptura de um padrão individual para poder perceber padrões sociais e por fim tentar ampliar padrões neurológicos e físicos. São únicas, até dois irmãos gêmeos terão experiências individuais diversas que gerarão um modelo de mundo diferente um do outro.

Como já dito antes, a língua seria ao mesmo tempo nosso maior aliado e inimigo, mas não só a língua em si, mas toda a capacidade humana de criar símbolos, de personificar coisas e eventos, de transformar a realidade gerando modelos variados que formarão pontos de vista e consequentemente personalidade e “destino”.

A forma como as informações externas, que são “filtradas” pelas restrições impostas, são transformadas desenvolvendo a percepção de mundo pode ser categorizada em 3 processos (apenas para melhor compreensão), apesar de um destes processos não excluir o outro ou dois deles poderem fazer parte de apenas um, dividí-los em processos distintos facilita o entendimento. Segundo o mesmo estudo acima, estes processos de modelagem da realidade foram denominados: Generalização, Eliminação e Distorção.

Generalização é um termo que define o processo pelo qual uma pessoa torna uma experiência qualquer como absoluta e comum. É a forma como ela traz para a realidade própria construída elementos que para ela parecem não ser mutáveis, obstruíndo novas escolhas e criando “más” convicções. As generalizações podem ser úteis, como é o caso do “não por a mão no fogo, senão você irá se queimar”. As pessoas podem passar a vida toda sem nunca ter se queimado, sempre obedecendo a esta generalização, que é bem positiva. Mas por outro lado elas podem destruir as próprias vidas, por conta do seu empobrecido modelo de mundo. Alguém pode generalizar por exemplo que “As pessoas não gostam de mim”, por causa de alguma ou algumas pessoas específicas que na experiência deste indivíduo lhe causou algum dano psicológico e/ou físico, traumatizando o seu modelo de mundo. Este indivíduo pode portar esta mesma informação para futuras experiências que sejam similares aquela singular, e isto é terrível pelo fato de limitar o comportamento, em alguns casos severos a pessoa se tranca e não quer contato com mais ninguém.

Eliminação é o processo de modificação da realidade que elimina uma parte da experiência. As pessoas são seletivas em sua percepção, e são eliminativas em sua comunicação, muitas vezes tanto no sistema digital (línguas) quanto no sistema analógico (expressões e gestos). Um exemplo físico deste processo é a capacidade humana de identificar uma voz específica no meio de muitas vozes, ou de não ver uma pessoa específica no meio de outras apesar de estar olhando para ela, já um exemplo na língua seria a frase “me ferem o tempo todo”, pois foi eliminado “quem” especificamente fere a pessoa e também “como” feriu, pois ferir é um verbo que não define exatamente como aconteceu, se foi fisicamente, com palavras ou se apenas o ignorou. Quando se busca o material eliminado as portas se abrem para uma visão mais ampla que é mais condizente com a realidade. Esta ação é muito útil na mudança e amadurecimento mental.

O processo de distorção é aquele utilizado para transformar a realidade totalmente, colocando novos elementos que podem ou não ter referência com alguma experiência. A imaginação pode ser considerada uma forma de distorção. As vezes num diálogo as pessoas distorcem o que o outro disse e tiram conclusões que não faziam parte do contexto. Por telefone podem distorcer o modo como a outra pessoa do outro lado da linha está falando uma frase como “você não vem logo?”, pois a mente é fértil e distorce as coisas, pensamentos e percepções o tempo todo. A distorção pode ser extremamente positiva, quando aliada ao foco e determinação pode levar a boas decisões e ao resultado esperado. Um planejamento pode ser considerado uma boa distorção, pois se imagina como será o objeto do projeto antes dele existir. Mas, assim como todos os processos usados para transformar o mundo real e criar um modelo de mundo próprio, a distorção também pode limitar e criar diversos obstáculos para o processo de mudança e desenvolvimento pessoal.

Em suma, o ser humano em toda a sua complexidade funciona de alguma forma, automaticamente, utilizando de sistemas de filtros e transformações que limitam, sabotam, obstruem e destróem a sua realidade. Essas limitações podem ser trabalhadas se percebidas. As convicções podem ser revistas, as crenças repensadas e utilizadas de formas diferentes, para que essa automicidade seja um pouco mais consciente e menos manipuladora.

O processo de mudança pode ocorrer em diversos níveis e o primeiro passo pode ser o de pensar sobre “ O que acontece em nós?” E se esta “fisiologia” das percepções humanas, descrita aqui, é útil para a compreensão do próximo passo. Estas terminologias se encaixarão nos modelos de mundo para explicar um funcionamento mais profundo.

As pessoas começam a mudar, na maioria das vezes sem nem mesmo perceber!

CultivoCultura 2016 ~ Produzido por tr3zetrintaeum