13.31 TEXTOS – Percepção – Cap. 1

11 de agosto de 2015 by in category Textos 13.31 tagged as with 0 and 0

Phrenology1

 

Por Vinicius (tr3zetrintaeum)

I

O que ocorre dentro do ser humano é único. É dotado de uma capacidade incalculável, em tantos aspectos que nem caberia aqui serem citados. Esta espécie, que reside neste planeta  que orbita uma pequena estrela, desenvolveu um sistema altamente sofisticado e complexo de símbolos, para que pudesse comunicar suas experiências uns aos outros. Este sistema foi denominado língua. Não é o único sistema usado para se ter relações com outros indivíduos. Inclusive se for analisado o processo de comunicação entre duas pessoas, a conclusão será que a maior parte envolvida neste processo é a parte analógica da comunicação (gestos, expressões faciais, pequenos movimentos corpóreos involuntários e voluntários, tonalidade, coloração da pele, direção ocular, suor, dentre outros) e não a parte digital (língua). O sistema analógico parece ser muito mais honesto e refinado, instintivo e forte do que o sistema de línguas. Acontece que isso não foi ensinado nas escolas e as pessoas não treinam para observar tais respostas que podem ser mínimas e sutís e que podem auxiliá-las para uma relação mais profunda e “autêntica”, pois nem pensam nisso.

O homem é uma máquina e não possui, em sua maioria, o conhecimento da fisiologia de suas peças. É dotado de um aparato sensorial extremamanete potente para reconhecer e decodificar tudo o que se encontra ao seu redor, desde movimentos, imagens, sons, a temperaturas e pressões. Os  sentidos são seus canais de entrada, os sensores para determinar sua percepção da realidade, o mundo construído pessoal. Estas ferramentas sensitivas se treinadas e utilizadas nos seus limites fazem com que se perceba muito além do habitual, tanto na observação do mundo externo quanto na comunicação entre as pessoas.

Um exemplo da percepção na comunicação é um fenômeno que os psicoterapeutas chamam de incongruência que acontece quando a comunicação verbal não coincide com a comunicação analógica (ver. Modelo Bateson), ou ainda mais, a comunicação de alguma parte da comunicação analógica não coincide com outra parte e vice versa (ver. Modelo Grinder e Blander). Um exemplo desta incongruêcia na comunicação pode ser uma pessoa que está dizendo “sinto tanto a falta dele” com um sorriso discreto e um olhar vivo brilhante; ou uma pessoa que diz “Estou furioso com ela” com expressão facial de fúria, porém com a mão direita sobre a perna com a palma para cima (gesto que pode demonstrar receptividade, ver Paul Eakman).

Tendo a atenção e percepção focadas apenas na mensagem verbal numa conversa, que, como visto, pode ser a menor parte da comunicação, são obtidas informações incompletas que tornam a relação empobrecida. A experiência que alguém teve está enraizada no seu sistema de funcionamento e desta forma é expressa com todo o corpo. Quando há incongruência entre esta expressão corpórea e o que se está de fato a falar, o conjunto analógico se torna mais confiável e próximo da realidade da pessoa. Neste caso o que parece ser mais correto, por um fim mais íntimo e honesto, seria decidir por este conjunto. Para tomar esta decisão, é necessário que se tenha um refinamento desta atenção, pois é um processo de captação de sinais “físicos” e não alucinação ou imaginação destes sinais. Essa lapidação pode ser possível por já haver em disposição incontáveis materiais teóricos e práticos, além de pesquisas e estatísticas que definiram alguns padrões que são passíveis de serem estudados e assimilados, apesar de, assim como a língua falada, estes padrões já estarem no incosciente, oculto e só não são utilizados conscientemente.

Mas por que os indivíduos não são absolutamente específicos numa comunicação e precisam usar de palavras não completamente especificadas para descrever suas experiências?

A resposta a esta pergunta parece simples mas é complexa na sua essencia. Uma resposta seria “porque a experiência é única e não reproduzível” , ela pressupõe que as experiências humanas, mesmo que aparentemente sejam as mesmas para duas ou mais pessoas, diferenciam-se em diversos aspectos, ela pressupõe mais ainda, que as pessoas percebem o mundo de forma diferente. Este é o ponto crucial para continuar a aprender. O mundo que está fora, o ambiente, é o mesmo para todas as pessoas, mas cada qual o percebe diferentemente, proporcionalmente ao seu conhecimento e experiências adquiridas, “positivamente ou negativamente”, e isso acontece por alguns motivos que serão vistos adiante.

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