13.31 TEXTOS – Introdução à percepção

8 de agosto de 2015 by in category Textos 13.31 with 0 and 0

Material escrito por Vinicius (tr3zetrintaeum) e compilado em diversas postagens. Aproveitem a leitura:

INTRODUÇÃO

O que é a mentira? Mentira por si só é apenas uma palavra. Na gramática utilizada hoje da língua portuguesa é catalogada como substantivo abstrato, ou seja, aquele substantivo que não é um objeto palpável, mas sim algo não substancial que depende apenas da nossa experiência para existir. Se por exemplo alguém disser a palavra “cadeira”, as pessoas farão uma imagem ou terão uma sensação, ou até um som peculiar, de um objeto concreto, que conhecem fisicamente, materialmente, e que é palpável. Um objeto que pode ser decodificado através dos cinco (ou mais) sentidos do sistema humano. Agora, se alguém disser a palavra “mentira” , “amor” ou “felicidade”, as pessoas não terão nada palpável de alguma experiência passada. A palavra “decepção”, que também participa desta última classe, traz tão somente alguma referência a uma experiêcia que causou alguma sensação e percepção (certamente inconsciente) que tenha  causado algum dano físico ou psicológico, que a consciência julgou real. Isso acontece porque os seres humanos codificam em símbolos sensações como sendo comuns quando deveriam ser individuais, pois são falantes nativos de uma língua, e outras pessoas, também falantes de uma língua, num passado remoto, determinaram estas palavras como rótulos que definem certas sensações diferentes que ocorrem em variados casos. Esta “falsa” compreensão da mensagem recebida numa comunicação fazendo com que as percepções e experiências das pessoas pareçam iguais é denominada generalização. No caso da cadeira, mesmo cada pessoa imaginando uma imagem diferente de uma cadeira, pois cada experiência de ver, pegar, ouvir arrastar pelo chão, estar perto ou sentar numa cadeira pode ser diversa, o objeto cadeira será sempre aquele sólido com uma base para se sentar, e é algo que se pode pegar, sentir com o corpo, ver com os olhos ou ouvir seu movimento com o refinado sistema de audição humano.

Estas palavras, que na língua portuguesa são denominadas substantivos abstratos e na terminologia inglesa “nominalizações”, fazem com que as pessoas não sejam específicas para descrever suas experiências a outrém, pois não sabem o limite da percepção daquelas sensações em outros indivíduos. Então se uma pessoa disser para outra algo como “- você deve procurar recursos internos que lhe estruturarão com uma base forte e farão com que consiga ultrapassar os obstáculos e efetivar uma mudança que lhe levará a sua vontade de viver bem e com isso seus desejos se tornarão realidade”, não estará dizendo absolutamente nada de concreto, não fará idéia do que estará se passando na consciencia da outra pessoa, o que esta estará imaginando, sentindo ou “ouvindo” será certamente diverso. Será extremamente diferente se ao invés disso disser “você deve procurar sua irmã mais velha e dar a ela um anel de ouro branco com brilhantes”. A forma como a pessoa dará o anel a sua irmã, ou aonde comprará o anel ou quando o dará não se tem como saber, mas é fato que, se ela obedecer o pedido, dará um anel de ouro e brilhantes para sua irmã. É específico e qualquer pessoa pensaria a mesma coisa.

Em comunicação, principalmente em terapia, é muito útil esta ferramenta denominada nominalização, pois os processos internos de mudança acontecem independentes do conteúdo explícito. É uma maneira elegante de fazer com que a pessoa entre num estado de resolução de questões internas sem o terapeuta precisar saber detalhes destes processos, esse assunto será melhor abordado mais adiante.

E por que foi dito isso!

Por uma razão simples, mas de extrema importância. Porque este livro se trata do estudo das percepções humanas. Este estudo abrange muitas áreas do conhecimento, aprendizado, comunicação, ciências, filosofias e qualquer forma de decodificar o ambiente externo ou interno. Está inelutavelmente atrelado a nossa forma de comunicação digital, que é a nossa língua, considerada por alguns filósofos nossa maior dádiva e inimiga (ver. sugestão de Huxley). Na sugestão de Audous Huxley em seu livro “As portas da Percepção”, a língua humana, este sistema de símbolos que descrevem experiências, seria a benfeitora da espécie humana, pelo fato de fazer com que possa refinadamente se comunicar e desenvolver sistemas complexos e comuns, mas limitadora e destruidora, no sentido de fazer com que cada indivíduo acredite que as coisas são de fato reais, e determine os acontecimentos como dados fatídicos, comuns e independentes da percepção individual. A palavra mentira é uma nominalização e se encaixa neste fator empobrecido da percepção humana, assim como a palavra bondade, maldade, felicidade, tristeza, amor, ódio e etc.

Mas por que tanta explicação sobre a “mentira”!

Parece uma infelicidade, mas tendo otimismo e modificando os pontos de vista para se situar na existência, soa como algo necessário o fato do homem inventar “mentiras funcionais” para rotular, classificar, sistematizar, as coisas ao seu redor, para tentar compreender a realidade fora de si. Para entender o movimento e comportamento dos corpos celestes o homem teve de incluir a força da inércia, e funcionou muito bem com relação as massas. Depois foi incluída a noção do espaço curvo para explicar o movimento das órbitas e esta noção também foi extremanente útil. As pessoas sempre precisam de idéias úteis e muitas vezes essas idéias se enquadram na lógica e matemática para chegar a conclusões do comportamento das coisas. Isso não quer dizer que são ideias absolutas, que são verdades, palavra esta (verdade) que é também uma nominalização, não diz muita coisa além da experiência de cada um. Nesta forma de pensar, nesta visão, a verdade passa a ser nada mais que uma mentira útil, pois não parece viável pensar em coisas determinadas e acabadas. Tudo o que acontece e é observável está em processo, no fundo não existe repouso no universo, ele está sempre acontecendo, em atividade, modificando, “meio que sem começo nem fim”.

Esta introdução é apenas uma forma de ilustrar o por quê da utilização de certos termos, palavras, como verdades, tão somente para entendimento dos processos por trás dos conteúdos. Não se vê, percebe ou ouve, hoje, alguma outra forma de repassar ou reproduzir algum conhecimento por via de leitura, sem ser através do sistema digital de línguas humano. Serão utilizadas mentiras úteis, assim como todas as áreas do conhecimento as utilizaram (sem prévio aviso),  apenas para uma melhor compreensão destas informações de alguma forma que seja útil e evolutiva.

O conteúdo descrito aqui é resultado de leituras diversas da atual área da psicologia, utilizando de conhecimento teórico adquirido a partir de livros, vídeos, conversas e outros canais de comunicação, além de alguns pensamentos próprios e conclusões que podem ou não vir a ser úteis futuramente. Não foi escrito de forma metódica e sistemática e também não foram usadas as referências dos materiais de base na íntegra. Dedicado apenas a descrição dos processos e conhecimentos fluidicamente, utilizando como ferramenta apenas memória e experiência. De qualquer forma o trabalho foi organizado como uma compilação, tentando ser o mais linear possível, apesar de os assuntos poder muitas vezes se entrelaçar. Elaborado de forma simples para que as informações cheguem claramente, suaves e congruentes, num tom esclarecedor. Quando houve necessidade, foram citados nomes para posterior pesquisa e obtenção de informações mais próximas a “fonte”. Algumas terminologias e estudos são referentes ao trabalho de grandes mestres da terapia e também de outras áreas para tentar explicar de um modo abrangente todo seu conteúdo. Este livro é apenas um verniz na grossa crosta das capacidades humanas e é de grande utilidade que haja um aprofundamento destas informações. É aconselhável ler nomes que estudaram e difundiram a “ciência” das percepções humanas e chegaram à respostas magistrais. Sugestão de leitura: Milton Erickson, Virginia Satir, Fritz Perls, Richard Bandler e Jonh Grinder, Aldous Huxley, Carlos Castañeda, dentre outros que serão citados no decorrer do texto.

É uma questão a se pensar o quanto pode ser útil este tipo de informação descrita aqui, e o quanto de proveito pode ser retirado e acionado para crescimento pessoal. Também seria bom  se a vontade de quem o ler,  permitir ir atrás de mais conteúdos e ferramentas para começar ou continuar a modificar padrões de percepção e pensamento. Parece que tudo no universo se modifica, e todos podem mudar suas crenças e convicções para aprender sempre mais.

As pessoas mudam.

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